Canto-fenômeno
Chant-phenomenon
2021
A instalação sonora Canto-fenômeno é resultado de uma pesquisa sobre a agência dos fenômenos erosivos e suas possíveis modulações corporais. A partir de uma reflexão sobre as dinâmicas e escalas dos principais fenômenos erosivos, este trabalho pretende trazer a potência destes agentes para perto: não mais a montanha que erode ao longe do olhar – então o corpo que é necessariamente espectador, protegido das consequências daquela erosão –, mas a pele que não só eriça quanto também erode o outro que está de encontro. Bruno Latour já diria que a sublimidade não é um sentimento estético possível na contemporaneidade, considerando os efeitos do Antropoceno e sua proximidade com nossas vidas; mas talvez seja possível experimentar o sublime ao devir tempestade: quando o corpo assume agência e toma para si as velocidades, nuances e intenções daqueles antes tão distantes agentes naturais.
Interessa, assim, a intenção de ser-vento, ser-rio, ser-gravidade, ser-chuva e sermar: através de uma série de cantos, de experimentações vocais, fazer ecoar em nossas cavidades uma erosão, como se no invisível do corpo também se forjassem paisagens. Diferente de um rito ancestral para invocar tais fenômenos (cantos para chamar a chuva, por exemplo), este trabalho convida o público a transformar sua voz em agente erosivo, uma vez que o ritmo, a melodia, e o próprio som estão em constante agenciamento material do mundo.
Em um primeiro momento, desenvolveu-se cinco partituras gráficas para não musicistas. Cada partitura refere-se a um destes cinco agentes erosivos (vento, mar, gravidade, rio, chuva), em que as indicações se dão por linhas, desenhos, dinâmicas, e não por notas musicais. Por meio de uma chamada pública virtual, recolheu-se mais de vinte vozes que, em suas respectivas casas, gravaram os distintos cantos à livre interpretação. Estas gravações compõem um banco de dados sonoro que alimenta o sistema sonoroeletrônico central da instalação sonora. Um microprocessador (RaspberryPi4) controla cinco sensores de movimento que disparam aleatoriamente uma sobreposição de vozes: abaixo de cada partitura existe um sensor de movimento e seu respectivo alto-falante, sendo possível disparar apenas um banco de dados ou os cinco ao mesmo tempo. É preciso que o público se aproxime das partituras para disparar os sons, criando uma certa espacialização interativa. Assim, a instalação está constantemente se reinventando, considerando que as composições polifônicas nunca serão as mesmas quando ativadas no espaço.
O projeto foi desenvolvido durante a Residência Artística do SomaRumor (2021), e apresentado na exposição individual Microerosões (2021), na Galeria Refresco (RJ).
The sound installation Chant-phenomenon is the result of research on the agency of erosive phenomena and their possible bodily modulations. From a reflection on the dynamics and scales of the main erosive phenomena, this work intends to bring the power of these agents closer: no longer the mountain that erodes away from the gaze – then the body that is necessarily a spectator, protected from the consequences of that erosion. – but the skin that not only bristles but also erodes the other who is against it. Bruno Latour would already say that sublimity is not an aesthetic feeling possible in contemporary times, considering the effects of the Anthropocene and its proximity to our lives; but perhaps it is possible to experience the sublime when becoming a storm: when the body assumes agency and takes on itself the speeds, nuances, and intentions of those previously so distant natural agents.
Thus, the intention of being-wind, being-river, being-gravity, being-rain and being-sea is of interest: through a series of chants, of vocal experimentation, to echo in our cavities an erosion, as if in the invisible of the body. landscapes were also forged. Unlike an ancestral rite to invoke such phenomena (songs to call the rain, for example), this work invites the audience to transform their voice into an erosive agent, since the rhythm, the melody, and the sound itself are in constant assemblage.
At first, five graphic scores were developed to not musicians. Each score refers to one of these five erosive agents (wind, sea, gravity, river, rain), in which the indications are given by lines, drawings, dynamics, and not by musical notes. Through a virtual public call, more than twenty voices were collected who, in their respective homes, recorded the different songs for free interpretation. These recordings make up a sound database that feeds the sound system's central sound-electronic system. A microprocessor (RaspberryPi4) controls five motion sensors that randomly trigger an overlay of voices: below each score there is a motion sensor and its respective speaker, making it possible to trigger only one database or all five at the same time. It is necessary for the audience to approach the scores to trigger the sounds, creating a certain interactive spatialization. Thus, the installation is constantly reinventing itself, considering that polyphonic compositions will never be the same when activated in space.
The project was developed during the SomaRumor Artist Residency (2021), and presented at the solo exhibition Microerosões (2021), at Galeria Refresco (RJ).